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Carta aberta sobre as aulas remotas e a retomada das aulas presenciais

Porto Alegre, Inverno de 2020.

De cabeça erguida enfrentamos a maior crise sanitária e política dos últimos tempos. Com muita criatividade nos dispomos a jogar com a volatilidade do tempo e o aprofundamento da incerteza que desestabiliza os horizontes. Por anos fomos educados a acreditar que estes horizontes eram seguros. Hoje o capitalismo nos revela a sua fragilidade, nos revela todas as fraturas do seu corpo em colisão neste acidente entre mundos que já dura 520 anos. Estamos na encruzilhada de EXU/BARÁ, precisamos escolher qual caminho trilhar.

Nos primeiros meses, com a entrada do coronavírus no território brasileiro, o Estado deu um jeito de proteger a vida das pessoas brancas privilegiadas neste sistema nefasto que gira a engrenagem para moer a nossa carne negra. Organizaram home office, ensino EAD, sistemas de uberização do trabalho, para que a burguesia pudesse se sentir protegida. Agora, nesta fase da pandemia, o Estado nos ataca mais enfaticamente, lança suas garras sobre nós. Pressionado pelo setor econômico [empresários], que diz que precisamos de ônibus lotados e de trabalhadoras e trabalhadores aglomeradas(os), mesmo sem uma rede hospitalar capaz de receber os nossos doentes - para os quais já há contêineres aguardando seus corpos.

Todo nosso esforço e informações disponíveis para dizer que aqui (R)EXISTIMOS, que lutamos para continuar existindo TODOS os DIAS, parecem ser ignoradas pelos serviços de assistência, saúde e educação deste Estado.

Como mães e pais de crianças e jovens em fase escolar, queremos deixar registrado o nosso BASTA!

Sabemos qual lógica opera dentro deste sistema, sabemos que o fato de não quererem revelar a cor das pessoas que estão morrendo pelo covid-19, serve para esconder a NECROPOLÍTICA. Na contramão deste percurso de silenciamento, de não querer revelar os dados, enfrentamos o sistema e, após meses de pandemia, o retrato terrível deste projeto de morte se apresenta para a sociedade brasileira, que insiste em não saber-se nele. Segundo PUC-Rio, “pretos e pardos sem escolaridade morrem quatro vezes mais pelo novo coronavírus(...)”. A política de morte que se aproveita do coronavírus para nos matar. Nos mata, também, inviabilizando o acesso ao auxílio emergencial, nos mata com a fome, negando a distribuição efetiva das cestas básicas, nos mata pela falta de acesso aos postos de saúde, fechando-os em plena pandemia, nos mata com projeto de privatização do saneamento, nos mata fuzilando e encarcerando nossos corpos, assim como, nos mata com o projeto de educação violenta. Nos lança ainda mais à margem de um sistema que colhe frutos nos destinando a miséria.

REPUDIAMOS o seu projeto de morte, projeto de educação genocida, que ignora os nossos saberes, que menospreza as nossas tecnologias, as nossas histórias, as nossas ciências.

REPUDIAMOS o projeto que investe milhões de verbas públicas em uma educação que NÃO é capaz de dar garantias de acesso à maioria da população; que não relaciona a problemática do momento a um projeto educativo cultural para cuidar do povo, que não é capaz de lidar com os medos, com as inseguranças que sentimos neste momento. Que gestor público faz isso? Tememos, como todos na população, pela vida e saúde mental de nossos filhos e filhas, tememos pela nossa vida e saúde.

Não há internet livre nas comunidades, não temos aparelhos adequados o suficiente para dar conta de um ensino remoto virtual. Afirmam pesquisas que mais de 70% de estudantes negros/as não tem computadores e celulares para o ensino à distância ; 4,8 milhões de crianças e adolescentes de 9 a 17 anos de idade vivem em domicílios sem acesso à internet no Brasil . Além disso, não há uma relação de respeito entre as escolas e as comunidades quilombolas, muitas ignoram a nossa existência. O modelo da educação remota ou EAD só funcionará se a meta for acentuar a evasão escolar, aumentar o estresse e a depressão entre crianças e jovens, agravar a desigualdade social [determinada pela raça], promovendo a EXCLUSÃO. Se este for o plano, estão indo pelo caminho certo.

Nosso grito reverbera em muitas outras manifestações, como a Carta Aberta : os 30 anos do ECA e as ameaças aos direitos de Crianças e adolescentes no Brasil (...) que sentencia: “As crianças e adolescentes de Povos e Comunidades Tradicionais têm sido silenciadas de forma covarde e inescrupulosa(...)”.

Segundo o Manifesto do CONANDA (2020): “As/Os professoras/es, em sua maioria, não foram formados para utilizarem as plataformas e os dispositivos de contato remoto. Daí, como consequência, o conteudismo tem prevalecido, com excesso de atividades e muita frustração, com o pouco retorno dessas atividades, com a sensação de impotência das famílias e com o sentimento de incapacidade dos professores e equipes pedagógicas”.

Diante de nossa manifestação de BASTA! Gostaríamos de perguntar: como estes gestores da educação estão cuidando da saúde mental, física e espiritual das professoras e professores para que estes possam cuidar da saúde mental, física e espiritual dos nossos filhos e filhas? Há respostas para estas questões? Se não há, sugerimos que revejam seus conceitos antes de pensarem em um projeto de educação virtual, presencial ou mesclado, para que não sustentem um projeto de educação violenta.

Estamos nos manifestando desde o início da pandemia, tivemos:

A Carta às autoridades no início do outono Em meio à pandemia, quilombolas do RS denunciam abandono das comunidades

O Manifesto por amor aos nossos filhos e filhas no outono https://frentequilombola.wixsite.com/frentequilombolars/manifesto

Entre outras manifestações textuais, audiovisuais, procuramos o gestor do Município para lhe apresentar as falhas da política no território e tentar pactuar uma solução possível para a nossa cidade Porto Alegre. Não fomos recebidas(os). Temos um projeto político que defende as vidas das pessoas e fortalece os territórios. Temos ciência do que é necessário ser ensinado às nossas crianças e adolescentes e jovens, algo que há muito tempo a escola parece esquecer.

Em tempo, nos solidarizamos com as 700 famílias das funcionárias terceirizadas da Multiclean, as responsáveis pela limpeza e merenda escolar, desumanamente, foram “descartadas” pela suspensão do contrato com a empresa por parte da Prefeitura de Porto Alegre. Em abril de 2020, a prefeitura executou um corte no contrato com a empresa de R$ 3,15 milhões mensais para R$ 152 mil, por meio da medida provisória (MP) 936, que cobria 70% dos salários das funcionárias e deixou de vigorar no último 15 de agosto. A péssima gestão municipal provocou a demissão das funcionárias em plena crise que atravessamos.

 

Eles insistem em nos matar. Mas nós nos agarramos à vida, nos movendo de encruzilhada em encruzilhada.

 

Não retornaremos enquanto a escola não for segura!

 

Reparações históricas pelos crimes de cometidos contra as nossas humanidades!

 

Abaixo PL 2633/2020, PL da GRILAGEM E GENOCÍDIO!

Suspensão da EC 95/2016, EC do Teto dos Gastos!

 

Frente Quilombola- RS

Quilombo Silva

Quilombo dos Alpes

Quilombo do Areal

Quilombo Fidélix

Quilombo dos Machado

Quilombo dos Flores

Quilombo Lemos

Quilombo Família Ouro

Centro de Referência Afroindígena/Ocupação Baronesa

Utopia e Luta

Movimento Nacional da População de Rua/RS

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